segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A palo seco



Se você vier me perguntar por onde andei
No tempo em que você sonhava.
De olhos abertos, lhe direi:
- Amigo, eu me desesperava.
Sei que, assim falando, pensas
Que esse desespero é moda em 76.
Mas ando mesmo descontente.
Desesperadamente eu grito em português:
Mas ando mesmo descontente.
Desesperadamente eu grito em português:

- Tenho vinte e cinco anos de sonho,
De sangue e de América do Sul.
Por força deste destino,
Um tango argentino
Me vai bem melhor que um blues.
Sei que, assim falando, pensas
Que esse desespero é moda em 76.
E eu quero é que este canto torto,
Feito faca, corte a carne de vocês.

Lá vou eu: Ufaaaaaaaa Belchior foi encontrado sossegado no Uruguai
Nunca mais você saiu a rua, povo reunido, com o dedo em V, cabelo ao vento amor e flor, quero cartaz/...Ainda bem que o bichão não sumiu, já estava me sentindo triste.
Axé bigodudo, narizento mais porreta vindo do nordeste.
Nas entrelinhas ele já tinha cantado a bola de que sumuria...
Eu sei de tudo na ferida viva do meu coração/ Nâo preciso que me diga de que lado bate o Sol porque mora lá meu corção/Eu prefiro andar sozinho deixem que eu decida a minha vida/ Nâo quero regras nem nada, tudo ta como o diabo gosta/Estava mais angustiado que um goleiro na hora do gol/E no escritório em que eu trabalho e fico rico quanto mais eu multiplico diminui o meu amor/Até à manhã,
se houver amanhã. – se eu vir a manhã mando alguém dizer como é.

Amar e mudar as coisas me interessam mais

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Soneto de Fidelidade


Vinicius de Moraes


De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Lá vou eu:Amar é uma decisão, não um sentimento, o amor é o amor pelo amor, com todo peso, e muita dor, todo intenso, sem se importar com a condição do ser amado...apenas amando! Consciente de que é eterno enquanto dure.
Nada melhor para saúde do que simplesmente amar com total desapego, para mover-se livre no desconhecido, sem nenhuma expectativa, sem nenhuma cobrança...simplemente amar...exercer o amor em mim, de mim pra você. O amor quando bem grande não temos medo de sofrer. Tem amores de todo tipo, de estilo indefinido, do respeito pelo amigo à dar bom dia para um desconhecido. O amor se manifesta em várias situações. A beleza sem amor nos faz ridiculos; a inteligência sem amor nos faz perversos;
amar é um verbo e o fruto dessa ação é o amor.A vida sem amor não faz sentido.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Ingazeiras (Ednardo)

Nasci pela Ingazeiras
Criado no oco do mundo
Meus sonhos descendo ladeiras
Varando cancelas
Abrindo porteiras

Sem ter o espanto da morte
Nem do ronco do trovão
O sul, a sorte, a estrada me seduz

É ouro, é pó, é ouro em pó que reluz
É ouro em pó, é ouro em pó

É ouro em pó que reluz
O sul, a sorte, a estrada me seduz.


Na minha opnião um manifesto à migração. Uma biografia poético-musicada de um sertanejo.
Imagino como deve ser Ingazeiras, esse oco do mundo, como tantos outros sertões, de onde se foge sem querer fugir, onde se fica querendo partir, onde os sonhos brotam na teima da esperança, como chuva que cai depois de meses sem cair. Vejo nessa poesia cantada de Ednardo o sonho como um desafio, o sonhar como um obstáculo "meus sonhos descendo ladeiras, varando cancelas, abrindo porteiras..." Penso no como as condições duras de vida deixam marcas perpetuas em nossa identidade, a poeira pra Ednardo é sua irmã é sua aliada na busca do que a as cidades do Sul parecem oferecer, o ouro em pó, a riqueza que se quer conquistar e que independente dos desafios parece melhor que o abandono das pequenas cidades nordestinas e suas sinas planejadas. Mas o destino é cruel e o ouro, é pó, é ouro em pó que reluz, a cidade e seus desafios, a única mudança é de contexto, e segue a vida e o carregar da cruz!

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Ypê - Belchior

Contemplo o rio, que corre parado
e a dançarina de pedra que evolui,
completamente sem metas ,sentado.
não tenho sido e eu sou não serei nem fui.
A mente quer ser ,mas querendo erra;
pois só sem desejos é que se vive o agora.
vêde o pé de ypê, apenas mente flora,
revolucionariamente
apenso ao pé da serra.
vêde o pé de ypê, apenas mente flora,
revolucionariamente
apenso ao pé da serra.
Contemplo o rio ,que corre parado
e a dançarina de pedra que evolui,
completamente sem metas ,sentado.
não tenho sido, eu sou não serei nem fui.
A gente quer ter, mas querendo erra;
pois só sem desejos é que se vive o agora.
vêde o pé de ypê, apenas mente flore,
revolucionariamente
apenso ao pé da serra.
vêde o pé de ypê, apenas mente flora,
revolucionariamente
apenso ao pé da serra.



Há um sentido para além de dúvidas e vivências, é o rio que corre mas nós os enxergamos apenas de uma de suas partes, um rio sempre corre, jamais será o mesmo, assim como nós, em constante mudança. É a cidade, com seus prédios crescendo desenfreados sobre aquilo que um dia já foi vivo, já foi mata, essa é nossa bailarina seguindo. Pergunto-me o quanto queriámos ser a fonte, viver sobre o mato, e o quanto a sociedade nos obriga e à outros mais à viver o que elas nos impõe, essa construção insólita e desnecessária de concreto e asfalto. Aí a maravilhosa mente do Belchior nos impõe à beleza de uma bailarina num sentido louco que o seu deslizar, belo e sútio pode trazer males terríveis (esse consumismo banal) que nos priva de ser quem realmente somos e nos faz pensar no futuro e passado nunca no presente. E o trocadilho "apenasmente flora" realmente tudo isso apenasmente flora, como também apenas nossa mente flora (cresce e vive) diante de tanto concreto e asfalto. E assim querendo seguimos errado em querer ser ou ter, quando na verdade já temos e somos tudo aquilo que precisamos. "Vêde o pé do ypê apenasmente flora apenso ao pé da serra" essa é a busca de todo cidadão "urbanizado", estar apenso;preso, agarrado ao pé da serra, buscando no horizonte do litoral uma pontinha do paraíso, um resquício de paz!